sexta-feira, 13 de maio de 2011


QUERO FAZER UM TETRAPLÉGICO DAR O PONTAPÉ INICIAL NA COPA. DIZ O CIENTISTA BRASILEIRO EM 2014...

Miguel Nicolelis não precisa ser reconhecido por mais ninguém - e nem ganhar o Nobel no qual é listado como eterno candidato - para provar que é o cientista brasileiro mais importante hoje. O paulistano de Bela Vista.

Vem desenvolvendo a esperança para tetraplégicos pacientes de parkinson. Há mais vinte anos a frente de um laboratório na universidade Duke, o neurocientista acaba de reunir suas idéias, teoria e descobertas em um livro publicado em março nos EUA e que chega em junho ao Brasil, pela companhia das Letras, como muito além do nosso eu - A nova nerociencia que une cérebro e máquina e como ela pode mudar nossas vida.

Agora, ele prepara para finalizar seus dois projetos de vida; a construção de um pólo de ciência em Macaiba, Natal, e a finalização de uma veste robótica que poderá fazer tetraplégico andar, usando só a força do pensamento. 'E o quero fazer com um adolescente brasileiro paralisado na abertura da Copa do Mundo de 2014. Não me interesso por premios. Esse som é o meu maior sonho. Se tudo der certo, esse menino dará o pontapé inicial', promete.

E, se tudo parece dar certo, o Nobel também parece mais próximo. O cientista foi convidado para apresentar um simpósio em plena Fundação Nobel, em Estocolmo, na Suécia. Pela primeira vez, os comites responsáveis pelas premiações nas áreas da Medicina, Química e Física se reuniram para organizar um evento multidisplinar, cujo tema é justamente a fusão homem-robô, assunto do qual ele é a maior autoridade no mundo..

1 - Quais foram as descobertas mais importantes da neurociencia nos ultimos dez anos?

Primeiramente, ela possibilitou observar populações de células de uma dimensão que ninguém tinha visto ainda. No meu livro, separei dez principios descobertos pela nova neurociencia. Esperímentos nos últimos dez anos mostraram, por exemplo, que o processamento não é localizado, mas distribuido. Que os neurõnios podem participar de vários circuitos simultaneamente. Que o sistema incopora ferramentas artificiais como extensões do modelo do seu próprio corpo. O nosso corpo não termina no epítélio, mas se estende até o limite da ferramenta que a gente usa sobre o controle do cérebro. E uma série de outras descobertas mais técnicas e especificas, mas que na minha opinião, formam o corpo de uma nova ciência do cérebro. Quais foram as descobertas mais importantes da neurociencia nos últimos dez anos?

2 - A resposta de membro biônico já é a do corpo? Pode explicar como o órgão se adapta a uma estrutura externa?
Mesmo se voce enviar o sinal para o Japão e esperar ele voltar, é 20 mil segundos mais rápido do
que sai da cabeça e vai para o músculo do macaco. Mas para que isso ocorra, o cérebro tem que
rastreado. Esse é outro principio, o da plasticidade, o cérebro pode se adaptar. Uma vez que voce
está usando um artefato robótico, artificial, o cérebro tem que mapear sua relação com ele. Nós
medimos isso em tempo real. Com isso, o que demonstramos foi a capacidade do corpo de se entender,
a libertação dos limites físicos através do cérebro. A mente pode entrar em um diálogo hidirecional
com outro dispositivo. Era isso que ninguém sabia ainda. Mas esse esperimento ainda era uma parte
básica da pesquisa. Na verdade, ele surgiu para tentar provar uma teria de quase duzentos anos.
Queríamos resolver essa questão, e conseguimos, mas no processo, notamos que estávamos mexendo
em uma área que tinha um enorme potencial clinico. Poderia realmente ajudar as pessoas.

3 - Quando isso poderá ser aplicado nas pessoas?
Nos próximos tres anos e meio queremos fazer a demonstração do projeto Walk Again, um consórcio
multinacional de pesquisadores de neurociencia e robótica que está desenvolvendo uma estrutura robótica
para fazer que tetraplégico voltem a se movimentar com autonomia completa, apenas com a força
do pensamento. Estamos concluindo a primeira fase, demonstrando que é possível extrair sinais de
controle motor de todo o corpo. Já mostramos que isso é válido para os membros superiores e inferiores
e agora podemos controlar o balanço e o equilibrio, o que fundamental para achar.

4 - O primeiro protótipo do exoesqueleto já foi finalizado?
O exoesqueleto está sendo desenvolvido por um robóticista com o qual trabalho há muitos anos,
Gordon Cheng. Está sendo finalizado agora, em Munique. Criamos uma versão que será controlada
de forma autônoma por um macaco - o que ele pensar, a tecnologia reproduzirá. Será uma estrutura de
corpo inteiro, muito similar a que estamos desenvolvendo para a aplicação clinica em pessoas.
Claro que o macaco não vai sair jogando bola, mas, se4 demonstrarmos que pode ter autonomia de
movimento, cumpriremos o objetivo final. Conseguimos mexer com tres variáveis fundamentais
tempo - a tecnologia é mais velox que o 'harware biológico' - espaço - o membro biônico pode estar
em qualquer lugar do universo - e força - o cérebro pode movimentar um guindaste industrial ou
uma ferramenta nanométrica com o mesmo esforço. O controle do robô mistura os sinais dos pensamentos
com reflexos robóticos. É como se fosse o corpo da gente, que tem comandos central e local. Ele
é movimentado por motores hidráulicos. É feito de um material muito leve, que, apesar de resistente,
pode ser dobrado.

5 - Que tecnologia podem surgir a partir do seu trabalho?
O aprimoramento da nanométrica, por exemplo. Será possível fazer intervenções dentro da célula,
retirar uma única célula cancerigena. Teoricamente, com a nossa tecnologia, no futuro, o operador
poderia controlar essa ferramenta diretamente pela mente. Também seria possível controlar um
foguete com a força do pensamento, ou mesmo um avatar.

6 - Isso não é só ficção?
A prova de que isso não é ficção é que a maioria das grandes empresas de tecnologia do mundo já
tem departamentos dedicados a estudar o impacto da tecnologia no cérebro e o desenvolvimento
de interface entre a mente e os computadores. Google, Microsoft, Intel e IBM já tem essa divisões,
o que é uma coisa inédita. Eu mesmo já fui palestrar no Google tres vezes.

7 - Muito picareta entrou nesse ramo nos últimos anos, passado por essa onda de futurismo?
Sim, muitos. A maioria ligada a essa história de singularidade, essa idéia de que as máquinas podem
resolver todos os problemas humanos. Acho mais fácil ter uma invasão de aliens que isso que eles
propõem acontecer. Eu tenho uma opinião totalmente oposta a deles. Não acredito na proposta
filosófica de que as máquinas, vão dominar o mundo e nos substituir. Acredito no oposto, que qualquer
máquina é uma imagem do que nosso cérebro imaginou. Elas são continuações do nosso processo
de pensar ou de tentar imitar a natureza. Acredito em um símbiose homem-máquina em que o
cérebro humano vai continuar controlando assimilando tudo. O cérebro assimila o que usa com
freqüência, não é a toa que somos viciados em celular, computador, TV. Aquilo é parte de nós.
A mortalidade para mim vai chegar, mas vai acontecer de outra maneira ' quando podermos fazer
um download dos nossos pensamentos, das nossas idéias, das nossas memórias. Isso tudo é possível.
Tudo o que fazemos é por meio de sinais elétricos e isso pode ser reproduzido até em avatares. Mas
um avatar não inventa nada, não tem novas experiências. Eu gosto dessa idéia, acho até poética,
mas não tem nada a ver com a imortalidade física. No futuro, quando criarmos métodos não-invasivos
para captar a atividade central com grande resolução - e esse equipamentos vão vir, é inevitável -
ou mesmo se um dia as pessoas acharem que tudo bem implantar um chip, poderemos registrar
milhares, um dia quem sabe milhões, de células individuais ao mesmo tempo. Hoje conseguimos
registrar cerca de mil células ao mesmo tempo. Nesse patamar, já é possível sonhar com alguém
andando, e é isso que eu quero fazer na abertura na Copa do Mundo, aqui no Brasil, um adolescente
brasileiro.

8 - O cérebro humano pode ser simulado por um computador?
Nunca. Não há como reduzir a nossa mente, que é o produto de uma infinidade de eventos aleatórios
a um simples algoritmo. Existe um conceito, de numero omega, que é o numero mais aleatório
se pode criar. O processo evolutivo humano é exatamente isso.

9 - Como voce ver o modelo de investimento científico aos Estados Unidos e no Brasil?
Os EUA estão em uma crise séria de pequisa. Eles estão tendo um êxodo enorme. Ainda colocam
uma quantidade enorme de dinheiro em ciência, mas o parque científico deles é muito grande. Para sustentar isso, mais de 250 bilhões de dólares por ano, cerca de 500 bilhões de dólares contando empresas privadas. O Brasil investe 4 milhões de dólares. Quando eu falo que quero criar a Cidade do Cérebro em Natal, poucas pessoas me entendem. Mas existe algo bem previsível, alguém vai ter o primeiro parque neurotecnológico do mundo. E eu acredito que pode ser o Brasil. É o momento ideal para o Brasil se tornar um pais que produz tecnologia de ponta, não dá só para ficar copiando o que os outros fazem.
A nossa ciência precisa ser mais inovadora. O Brasil nunca pode praticar a inovação. Quando
conseguiu, se deu bem. Embraer, Petrobrás, Vale do Rio Doce. Mas um dia o minério de ferro vai acabar, precisamos produzir conhecimento. Temos de ensinar as crianças, desde bem cedo, a pensar criativamente. Não dá para importar inovação. No EUA, eles tem a ousadia no DNA, não sofrem com uma educação de colonizado como nós. Os norte-americanos não dormem no ponto. Muito menos na ciência. Quando eles veem que precisam investir, vão com tudo, como foi o caso da corrida espacial, que incentivou o pensamento criativo de uma maneira impressionante. Ainda hoje, os EUA vivem a última onda da inovação trazida pelo projeto espacial. Os engenheiros de ponta, matemáticos e molecada que cria ciência hoje, é toda daquela geração. O Brasil inteiro precisa ter uma educação libertadora. E não pode esperar que os talentos venham só de São Paulo. Pensa no Rivaldo, ídolo do meu Palmeiras. Ele foi visto na periferia de Pernambuco, jogando na rua. Se tem olheiro para futebol, por que não tem para a ciência? A academia brasileira não dá a cara para a sociedade. Nos EUA é diferente, o povo sabe que paga pela ciência. Meu vizinho chega para mim e pergunta o que estou fazendo com o dinheiro dele.

10 - Voce é um critico do modelo de universidade adotado no Brasil, que chama de 'colonial'. O que deve mudar? Como voces estão conseguindo financiar o Campos do Cérebro em Natal?
Somos um projeto privado, temos parcerias com o governo federal, mais temos de achar recursos no mundo inteiro. Estamos conseguindo para cada RS 1 público que conseguimos, temos RS 1 ou RS 1 privados. Por isso, a Cidade do Cérebro, última fase do projeto, é nossa idéia autossustentabilidade. Já a academia brasileira é muito provinciana. Ver mal quando um cientista escreve um livro como o meu, de divulgação científica. Bem, eu escrevi porque isso é importante. As pessoas tem imagens de pura ficção na cabeça, de Hollywood, e alguém precisa chegar para elas e explicar como funciona. Na área tecnológica, as pessoas tem essa fantasia de que as máquinas vão nos dominar, de que o Big Brother vai entrar nas nossas mentes. Isso tem de ser esclarecido. Nos EUA, isso é bem vindo. Aqui não. Acredito que no futuro, o conhecimento produzido por essas instituições será inteiramente colaboratívo. É só ver o projeto Walk Again, que envolve duas instituições alemãs, uma suíça, a Universidade
Duke e o nosso instituto em Natal. A lógica colaborativa é muito emblemática do que o cérebro faz,
por isso funciona tão bem.

11 - Como assim?
Eu tenho uma teoria, que ainda não posso provar cientificamente e que por enquanto é só uma hipótese,
de que os modelos colaborativos funcionam tão bem porque a mente os reconhece como naturais.
Somos animais sociais, não é a toa que as redes sociais são um sucesso. Temos de ter contato com
os nossos pares. Nossas ações ou muitas vezes são mímicas de como nossa mente age, até nosso
modelos políticos refletem isso - nosso cérebro é uma grande democracia. Nós nos sentimos bem
nesse modelo distribuído, exemplificado pela internet. Nossa cabeça funciona assim.

beijinhos e coraçõezinhos. lu.

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