domingo, 1 de agosto de 2010


E se?

ela nunca põde contar com ninguém, para viver. não chegou a passar por privações, pois seus pais não eram nem pobre. mas tampouco ganhava presentes, mesada ou saia de ferias. gente que lutou a vida inteira para sobreviver a selva com muita dignidade, tentou dar a melhor educação para seus filhos, afinal, essa é a unica herança que realmente fica - as outras eles vendem logo depois da partilha, como se sabe. enquanto todos os amigos saiam a noite e frequentavam as boates da hora, ela ficava em casa estudando, era bolsista na faculdade noturna, precisava tirar boas notas e ainda trabalhava o dia inteiro como secretária. na hora do almoço - quando tinha - comia qualquer coisa rápido e voltava para o escritório. se não havia tempo pra dormir, que dirá pra namorar. nos poucos momentos de folga, ela pensava se não estava jogando fora os melhores anos da sua vida, que se não se vai a praia aos 20 anos, como faze-lo aos 40? mas o destino não lhe deu muitas opções; ou se bronzeava ou colocava comida na mesa. hoje, olhando para trás, consegue rir desse tempo de esforço e renuncia. passou em primeiro lugar para todos os concursos que prestou e conseguiu um ótimo emprego; com o salário pagou as prestações de um apartamento, de outro [ que alugou ] e depois de outro e foi galgando os degraus de uma impressionante e sólida carreira. aos poucos, a base de muito suor e na ponta da calculadora, construiu seu pequeno império. mas decidiu não relaxar; se é dificil fazer, pior é manter, já dizia seu pai. ver as poucas amigas, de infãncia que viraram mães e pensa se sua vida não teria sido mais feliz numa casinha
do subúrbio rodeada de crianças. elas comentam sobre o preço absurdo das mensalidades reclamam
dos maridos, que estão sempre cansados, mal saem do barro em que vivem. ela não, é uma mulher
que viu o mundo. conheceu paris, aprendeu a duras penas a comer lagosta com talheres e a agir com
naturalidade quando entra numa festa regada a champagne e caviar - logo ela que nunca teve nada,
que veio de onde veio. quem a ver hoje, toda executiva e perfumada, nem cogita a hipótese de que
ela já foi uma menininha da baixada, que corria de lá pra cá de vestidinho de algodão e chinelo de dedo,
que subia em árvore para comer manga madura, se lambuzando até dizer chega. era mais feliz naquela
época ou hoje? não sabe dizer. afinal, passou a vida inteira perseguindo exatamente a vida que tem,
então não pode reclamar. mas e se tivesse ido também atrás de outras coisas, não só da carreira?
mas, madura e mais escolada na realidade, percebeu que as mulheres são seres complexos horizontais,
que não se completam com apenas uma unica emoção. elas precisam viver tudo, agora ao mesmo
tempo - e tem pleno direito a todas as maravilhas que uma alma pode proporcionar. estar na hora
de ela sacudir a poeira e fazer alguma coisa por si mesma; até jogar tudo o que perseguiu e conquistou
para o alto. e vai correndo, contar as amigas que elas podem seguir o exemplo; nunca é tarde.

toda mulher são muito complexa, e eu não sou diferente, só porque sou deficiente cadeirante,
eu também tenho as minhas duvidas, os meus medos, inseguranças ansiedades. apesar de não
gostar de mostrar-las. espero que quem acessar esse blog nos entendam melhor sem do tal do
preconceito. beijinhos e coraçõezinhos. lu.