domingo, 24 de outubro de 2010


VIDA DE CINEMA

Ela se olhou no espelho e teve um desejo incontrolável de sumir, jogar tudo para o alto e virar outra pessoa. uma decisão radical, esquecer que é mãe, mulher e empregada e deixar tudo e todos para trás. não que ela fosse infeliz, longe disso, mas chega uma hora em que a gente faz um inventário e pensa que as coisas certamente poderiam ter sido diferentes. e se tivesse mudado para o exterior aos 20 anos, quando aquela possibilidade de cursar um periodo da faculdade na inglaterra pintou? mas ela estava no auge da paixão aquele cara incrivel cujo nome nem lembra mais, e convenhamos; dava-lhe calafrios só de pensar na possibilidade de ter que trocar o conforto da casa dos pais, para viver num cubiculo num campus gelado e lavar a própria roupa.
e se não tivesse se casado? ele é um homem maduro, estável e generoso. um gentleman incapaz de levantar a voz, mesmo quando ela tenta levá-lo as raias da loucuras. ambos chegaram aos 43 anos com as finanças todas em ordem, moram num bom apartamento, viajavam duas vezes por ano e até se inscreveram num curso enologia, em que aprenderam a identificar pólvora e cepagem no primeiro gole.
vivem na mais absoluta previsbilidade; sua casa funciona afiadamente como o palácio de buckingham, tem quadros dos artistas certos na parede, uma empregada eficiente e silenciosa, dois carros incriveis na garagem, filhos bonitos e educados. tudo com que uma mulher pode sonhar? nem tanto; ela folheia, por acaso, uma revista de celebridades e mentaliza como seria maravilhoso viver como Angelina Joie e Brad pitt, a cada dois meses num pais diferente e ainda arrumando tempo para salvar um pais da África de que ela própria nunca tinha ouvido falar; eles parecem viver num eterno Ápice da paixão, sempre a ponto de se separar, mas loucos para devorar um ao outro, que delicia.
lindos e modernos, Brad e Angelina adotam práticamente um filho de etnia diferente todo ano e os criam sob os preceito mais avançados do século 21. se a filha semi bebe quer se vestir de menino, nada de laçarotes e babados; dão-lhe calças e cabelos curtos. o filho quer raspar metade da cabeça e ouvir heavy metal aos quatro anos? o importante é educar na mais absoluta liberdade, como cidadãos do mundo. ah, como ela faria diferente se pudesse voltar ao tempo.
mas dai o próprio filho chega da escola chorando porque se ralou inteiro no futebol. precavida, ela tem uma farmácia no banheiro e faz o curativo. com o rosto ainda úmido, ele se deita no colo dela, como há muito não fazia, desde que completou 10 anos e decretou que é mico' receber carinho de mãe. e com ele quase apagado nos seus braços, como nos tempos em que só mamava e dormia, ela pensa como teria se virado naquela pequena emergencia se eles estivessem morando provisoriamente numa floresta da indonésia, em regime de aventura permamente.
imagina como daria trabalho se o marido chegasse em casa avisando que a familia teria que se mudar depois de amanhã para a Sibéria, onde pintou um papel num grande filme. e que não importa que faça 30 graus negativos; logo em seguida ele decolaria uma ilha no Caribe que eles poderiam curti dois meses de praia, antes de se mudar para outro lugar, claro, que roupas colocar na mala? onde comprar mobilia para casa nova, achar uma boa empregada e conseguir bons telefones de eletricistas e marceneiros, no meio da tundra? o ano letivo das crianças ainda não terminou, há boas escolas na Sibéria? há qualquer escola na Sibéria?
de repente, ela voltou achar a maior graça no tédio do cotidiano. sua vida pode não ser exatamente uma coisa de cinema e ninguém garante que ela um dia tome mesmo coragem de desaparecer. mas tem horas em que é bom, aliás ótimo, seguir o roteiro á risca. desde que sempre se aposte num final feliz.

beijinhos e coraçõezinhos. lu.

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